segunda-feira, 10 de maio de 2010

Apreensões

Hoje foi a pior noite da minha vida.
Sai chateadíssima da sala de aula.
Pensamos que propor novidades, debates, projetos de aprendizagem seja algo engrandecedor para os alunos, mas a visão que eles têm de uma sala de aula e suas intenções em relação a ela são bem diferentes.
Eu achava que minhas aulas eram boas....achava.

Hoje, um aluno que no início do estágio disse que não queria vir na escola para perder tempo, me disse que não está gostando das aulas.
Ele disse que está vindo pra escola para aprender a ler e a escrever e pensa que perdemos muito tempo com essas conversinhas.
Disse que entende que eu quero trazer coisas novas, mas ele já é adulto e já aprendeu a se defender. Ele trabalha o dia todo e eu também, ele sabe que eu me dedico pra pensar aulas legais, mas acabo fazendo eles perderem tempo.
Me disse que não sabe como veio na aula hoje, porque estava decidido a não vir mais, porque não está aprendendo nada comigo.

O aluno que tem mais dificuldade de escrever disse que gosta das aulas, que tem aprendido coisas que tem ficado dentro dele e que conversar também é importante.
Os demais reafirmaram que estão lá par ler e escrever. O gozado é que eu achava que estava fazendo isso.

Cheguei em casa e folheei meu caderno relendo meus planejamentos dia a dia e não consigo pensar que não tenha oportunizado leitura e escrita como desejam.
A questão é que para eles não há espaço para mais nada, além disso: leitura e escrita.
Eles não querem história, religião, educação física ou arte.
Eu estou tão triste e tão decepcionada, que eu nem sei bem o que pensar.
Eles não querem falar de furacões no PA. Eles não querem debater. Isso tudo é conversinha. Eles querem ler e escrever, 100% tradicional. Estou me sentindo uma ameba!

Semana passada, falamos sobre o Dia do Trabalhador e introduzi a tela Operários da Tarsila do Amaral. Assistimos a vídeos totalizando uns 15 min sobre sua vida e fotos de suas telas, falamos sobre ela e dei revistas e lápis coloridos para fazerem uma releitura da obra dela, Operários. Minha intenção era que apresentassem aos colegas sua obra, falassem sobre ela e depois escrevessem sobre a questão dos trabalhadores, à luz do quadro da Tarsila. Levaram a aula toda pra fazer a releitura e para "explicá-la" aos colegas. Odiaram, detestaram a aula.

Como hoje um aluno, o qual tenho feito menção desde o início, fez questão de reforçar QUE HOJE a aula estava boa, porque leram e escreveram bastante, resolvi abrir o espaço para saber o que estavam achando das aulas.

Quando ele começou a responder tudo que está acima, tive vontade de chorar (segurei o choro), tive vontade de correr (me contive) e tive sinceramente vontade de desistir.

Fiz a Cris (minha irmã) ler meu planejamento de cabo a rabo e a professora titular também. A titular me disse que os alunos reclamaram apenas da aula da Tarsila. No entanto, percebi que para eles o PA também representa uma perda de tempo.

Estou angustiada, mas relendo meu planejamento percebo que contemplo as necessidades de leitura e escrita deles e que a verdade é que é muito difícil romper este ciclo de aulas tradicionais e propor atividades verdadeiramente desafiadoras que os façam pensar e buscar. A visão deles é de que aprende-se a interpretar respondendo perguntas de um texto, não analisando uma realidade.