sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Freinet e Montessori

Nossa, que delícia ler sobre Freneit e Montessori!

É sempre muito bom conhecer a origem de boas idéias. E note, que não são novas.

Nunca utilizei e nunca tive a idéia de fazer correspondência entre escolas, nem entre turmas. Veja que idéia simples e bacana. Lembro-me que na minha infância, trocamos cartas na sala de aula e eu já julguei o máximo.Imagine receber do correio! Porque não saber de outro estado, de outra cidade ou país? Nos fechamos nas nossas fronteiras e infelizmente muitas vezes elas se encerram na porta da sala.

Não sabia que eram de Freinet as idéias da Escola da Ponte. Os cantinhos com diferentes instrumentos de pesquisa e aprendizagem... os espaços da sala de aula são uma idéia ótima, mas também refletem uma difícil mudança de paradigma. Temos dificuldade de não estar no controle... eu ao menos me assusto ainda um pouco com a idéia, apesar de julga-la magnífica! É difícil imaginar uma aula que não seja conduzida, criteriosamente acompanhada. Acho que ainda carregamos ass chagas do militarismo.

Montessori eu não conhecia, mas já utilizava suas idéias. Quando não tinha material dourado, usava fundos de garrafa e tampinhas. E sabe que eu achava mais gostoso? Usava prendedores de roupa e aos poucos , orgulhosamente, as crianças iam por si próprias abandonando o concreto e todas bobas fazendo a continha direto no caderno. Dar aula é uma festa!

Comunidade surda


Há anos atrás tive contato com uma menina surda e conseqüentemente em seus aniversários com seus amigos, que encontravam-se em igual situação. Eu tinha pena até conhece-los. Entrosavam-se com facilidade e comunicavam-se entre si com perfeita tranquilidade, prazer e harmonia.

Fiquei imaginando como deveriam se sentir em ambientes habitados por ouvintes, visto que me sentia completamente deslocada na ausência de tradutor. Fiquei fora do assunto e imaginando inclusive se falam de mim e se falavam, o que. Falando disso, lembro-me que ela sempre dizia que se casaria com um surdo, porque queria sempre saber o que o marido dela dizia dela. E de fato o fez. Interessante destacar que ele dirige. Coisa fantástica, não? Julgava isso uma função inexistente a essas pessoas.

Meus conhecimentos restringiam-se ao alfabeto e a vagas palavras como amigo, familiares, cumprimentos e verbos básicos (bem básicos). Estava completamente perdida. Mas o amargo da situação é que aquela era uma situação isolada. O comum é a exclusão ser no sentido contrário.

Aprendi que as comunidades surdas buscam alternativas para suprir suas limitações e conseqüentemente possuem hábitos únicos. Voltando a festa...lá, dançavam de pés descalços para sentir a vibração da música, olhavam atentamente para os lábios alheios (falando de ouvintes) para captar falas dos analfabetos em libras.

Percebi que na escrita usam verbos no infinitivo. Na época ainda não existia celular para o uso de mensagens: a moda eram cartinhas e bilhetinhos mesmo. Ela também não possuía telefone. Recados eram dados por tradutores de ambos lados da linha.

Interessante também era a forma como a família desta minha amiga agregava-se ao grupo, integrando a comunidade surda. Comunicavam-se junto com desenvoltura e harmonia, pertencendo a um mesmo grupo. Mas essa não é a regra. Ela possuía recursos financeiros. Aliás, muitos recursos.

O praxe, é a vivência de Jonas. Sem apoio, sem condições financeiras, exclusão social, incompreensão. Que bom que a legislação incluiu libras no currículo. Aliás, a lei é de quando? E qual a carga horária mesmo? Será que um real investimento na icnlusão não deveria confiigurar na exigência de uma carga horária que garantisse pelo menos o conhecimento básico da língua? Quem de nós sairá desta faculdade sabendo conhecimentos mínimos de libras? Não estou criticando a universidade, ela segue os padrões legalmente definidos. Olha, eu apanhei e muito pra encontrar palavras no vídeo de conversação da educadora que compreendesse. Olhei de cabo a rabo o dicionário (que deixei salvo no computador e no pendrive...muito bom! E a gente nunca sabe se vai precisar).

Penso que o Governo Federal deveria baixar uma norma sobre qualificação de todos para a inclusão social e deveria garantir cursos em todo país. Não podemos receber crianças de inclusão e aí nos ser oportunizada a capacitação. Precisamos estar preparados.

Planejamento

Achei muito interessante a atividade de revisão do planejamento e gostaria de retomar algumas questões sobre a reflexão propiciada.

1. Para o planejamento, você escolheu um tema a ser desenvolvido. Qual é a importância deste tema para os seus alunos, isto é, para o grupo para quem planejou, no dia de hoje? É um tema de que os alunos precisam hoje para resolver algum problema concreto? Para satisfazer alguma curiosidade?

Respondendo a questão, conclui que nunca havia me feito estes questionamentos. E eles passarão a integrar a minha vida de educadora e o meu cotidiano em sala de aula. Confesso que às vezes eu me questionava sobre a importância de conteúdos que estavam na lista e me sentia na obrigação de passar. Meu namorado dizia que minhas idéias revoluvionárias desvalorizavam conhecimentos tradicionais.

2. Qual é a relevância do tema escolhido para seus alunos no futuro? Em que o tema vai contribuir para a vida destes alunos?

Eu juro que me questiono até hoje qual a importância do substantivo ser abstrato ou concreto. Perdemos muito tempo de produção textual, nos dedicando a classificações inúteis.

3. Qual é o acesso que os seus alunos têm ao tema? O que eles já sabem sobre o tema? Onde o tema aparece no cotidiano dos alunos? O que pode motivá-los a trabalhar com este tema?

Pois é. Às vezes o acesso limita-se aos bancos escolares (usei o termo propositalmente para indicar a situação de ultrapassado). Penso que o que os motiva é a consciência de significatividade. Voltando ao substantivo. Eles sabem, que escrever e conhecer as normas de escrita é importante. Mas classificar substantivo na 4º ano, 5º ano?

4. De que forma esta atividade planejada se relaciona com outras áreas do conhecimento além da linguagem? Quais são elas?

Olha, se não se relaciona, não é importante. No mundo, tudo está integrado.

5. O tema escolhido poderia ser um tema desencadeador para desenvolver um projeto mais amplo e interdisciplinar? Seguindo as etapas como os projetos são desenvolvidos, o que você teria que fazer antes de explorar o tema da forma prevista? E o que você teria que fazer depois?

Essa, mata. Se não desencadeia um projeto, filho, é um subtema e aí você começou do ponto errado.

Falando de ponto, relembremos as etapas da construção de um projeto:

* ·

  • Relacionar as curiosidades das crianças sobre o tema, listar os conhecimentos que já possuem acerca dele e as dúvidas que cada um tem.
  • Pensar caminhos e métodos a serem utilizados para o estudo do tema.
  • Formar um planejamento com as crianças, sugerindo as etapas e prazos a serem seguidos
  • Iniciar a execução do projeto
  • Realizar as adaptações necessárias
  • Acolher novas sugestões
  • Agregar novas dúvidas
  • Confirmar certezas
  • Sintetizar os conhecimentos adquiridos.

Para concluir, quero destacar que construção de projeto não é novidade para nós. O que é novidade, é o método, como acabei de listar. Antigamente, fazíamos de conta que estávamos indo ao encontro das curiosidades das crianças. Na verdade, elegíamos a ordem dos conteúdos da lista e criávamos SOZINHOS um projeto de trabalho, agregando o que julgávamos mais ou menos relevante e iniciamos a execução da nossa criação, esperando que as crianças atingissem os objetivos que nós determinamos.

Hoje, fazer um projeto de aprendizagem implica em verdadeiramente acolher os interesses, dúvidas e curiosidades das crianças e criar com elas o projeto, definindo coletivamente os passos a serem seguidos e os objetivos a serem alcançados.

Alfabetização

Eu acho a alfabetização o máximo!

Acho formidável acompanhar a criança avançando os degrauzinhos da escrita e ir elaborando as suas teorias para criação da escrita.

É mágico perceber que uma hora elas enchem de símbolos, letras e números uma linha para escrever o nome de coisas grandes e outra hora já estão pensando atentamente a sonorização da sua grafia para completar a palavra de maneira correta.

Vamos relembrar cada fase:

· Pré-Silábica: ainda não entende que a escrita representa sons. Utiliza-se desenhos e sinais. Algumas, após desenharem o objeto chegam a afirmar “Eu escrevi... (tal coisa)”. É importante nesta fase destacar as diferenças entre desenhar e escrever. É muito bom trabalhar com a letra inicial e final das palavras, manusear livros, letras soltas, brincar com a escrita. É importante não pressionar a criança e garantir que ela não se sinta pressionada. A criança, apesar de elaborar as suas hipóteses, percebe que as suas crenças são distantes da firmeza dos colegas silábicos e alfabéticos e sente-se insegura e incomodada nesta fase.

· Silábica: quando compreende que a sílaba é um pedacinho da palavra, a criança passa a representar a escrita utilizando uma letra para cada sílaba.Algumas vezes, a letra utilizada para registrar a sílaba nem tem relação fonética com a palavra. Para mim, esta é a fase mais bonita e encantadora e eu a subdividia em duas: 1 – quando reconhece apenas o número de sílabas. 2 – quando já utiliza na escrita as letras da palavra. Exemplo: AM (bola – S1) BA (bola – S2). Penso que nesta fase o atendimento individualizado pelo professor, repensando com o aluno a escrita do mesmo e reelaborando-a seja o caminho para a mudança de etapa. Dar acesso a sílabas para a construção de novas palavras através da junção das mesmas. Escrever coletivamente.

· Alfabética: possui a noção de que a palavra é formada por sílabas e que as sílabas formam-se a partir da junção de fonemas. Mas é muito comum ter dificuldades ortográficas ou não redigir letras como R em final de sílaba/ final de palavra.

Penso que o processo de alfabetização conceitua-se como uma reconstrução permanente. Penso que o educador deve estar permanentemente motivando seus alunos, atendendo-os pacienciosamente, ajudando-os a pensarem sua escrita, a lerem e reescreverem seus registros. Sou a favor do reconhecimento inicial, por etapas, da sonoridade das letras, da dedicação à descoberta da letra inicial e final das palavras, para a partir daí realizar-se a construção de unidades maiores.

Não estou abominando os textos ou as frases. Penso que o acesso aos mesmos é imprescindível. Mas de uma forma ou outra, como numa porção de contagotas, a criança terá que começar a desvendar um a um os símbolos para desvendar o enigma. Nunca vou esquecer-me do belo alfabeto árabe (ilustrado, claro) que nos foi disponibilizado para descobrirmos a grafia de palavras ou traduzirmos para o português. O cansaço e o pavor de alunos adultos da turma ( e o meu também), me fizeram compreender, pensar e me sentir literalmente como uma criança analfabeta.

Marta e a EJA

Lendo Marta Kohl de Oliveira, refleti sobre a experiência que tive com alunos adultos. Destacava-se, durante a leitura, sempre a expressão “não crianças”, o que é o extremo oposto da formação de magistério. A nossa formação prepara nossa mente para o lúdico, para a conversa franca, o linguajar simples, a fantasia, o concreto. E isso é ótimo!

Na minha opinião, os alunos de educação de jovens e adultos exigem dedicação e preparo muito maior do educador, uma vez que o mesmo estará atendendo alunos diferentes do padrão de escolarização regular ao qual está habituado e na maioria das vezes para o qual foi preparado.

Assistindo as apresentações dos banners das colegas, sobre o retrato da EJA, percebi que na maioria das escolas observadas, os professores não possuem preparação específica e alguns nem a dedicação mínima. Isso é alarmante, uma vez que trata-se de uma parcela da sociedade frágil, que já passou por um processo de exclusão.

Nas salas de aula da EJA é imprescindível que o aluno seja motivado permanentemente, que seja resgatado da sua condição de inferioridade que é sua realidade há anos, visto que pela sua falta de conhecimento, pré-concebe que não tem condições de efetivar sua inserção social.

Acredito que devido ao fato de esses alunos se sentirem à parte da sociedade, a função principal da EJA seja a reinserção social.

Na opinião de Oliveira (1987, p. 19-29) “ o desenvolvimento das atividades escolares está baseado em símbolos e regras que não são parte do conhecimento de senso comum. Isto é, o modo de se fazer as coisas na escola é específico da própria escola e aprendido em seu interior.

Já passou da hora de repensarmos os modelos e utilizarmos metodologias que valorizem os conhecimentos e experiências do aluno, mostrando-lhe as suas contribuições para a vida em sociedade e resgatando, desta forma a sua auto-estima, bem como fundamentando a auto-confiança, imprescindível para o enfrentamento das dificuldades e expansão dos conhecimentos.

Freire partia da valorização da experiência e do interesse intenso sobre a vida, os desejos, os conhecimentos e as experiências de cada aluno. Freire partia dos pressupostos de que o conhecimento “contido” no aluno deve ser resgatado e reconhecido e de que a troca de experiências e a vivência de fato do conhecimento são as maiores fontes de crescimento.

Imagine você, sentindo-se inferiorizado, cansado de um dia inteiro de trabalho, preocupado com a saúde dos filhos, com a certeza de que estão bem alimentados, com a tristeza de não proporcionar-lhes o que deseja,sentar numa sala de aula onde são tratados assuntos que efetivamente não lhe farão diferença, que lhe roubarão horas de sono ou o pior, que você nem tem de fato idéia do que significam. Você apenas ouve e tenta decorar porque alguém está dizendo que são importantes.

Há coisa de dois meses atrás, participei de uma formatura do Programa EJA Intensivo. Lembro-me de ter me chocado ao ouvir uma professora me informar que um de seus alunos não se faria presente naquela noite, porque havia ficado fazendo hora extra na empresa. Fiquei abismada e revoltadíssima, percebendo como ainda o setor privado não investe e não apóia a qualificação profissional.

Estes jovens ocupam espaços no mercado de trabalho que exigem pouca qualificação; exigem esforço físico, são estressantes, configuram-se como atividades de repetição que acabam levando o esgotamento do corpo e comprometimento da saúde.

Mas a educação está ai para mudar este quadro. E eu acredito fielmente nisso. Mas aí, quem ocupará os cargos profissionais mau remunerados? Ah, claro, o desemprego e o medo da fome fazem o homem submeter-se a tudo. A hipocresia do mercado, alega oportunidade, para garantir a formação mínima necessária para garantir o lucro e a produtividade desejada.


Penso que a Educação de Jovens e Adultos tenha a função reparadora de promover às pessoas que não tiveram acesso à escola na idade adequada, a oportunidade de estudar.

Vivemos sob o regime do capitalismo, onde o poderio financeiro dita as regras, a sobrevivência está pautada na capacidade de compra e as relações sociais estão baseadas nas relações profissionais. Cada vez mais as pessoas acumulam riquezas e poder, na mesma medida em que vão ascendendo na pirâmide funcional. Em contrapartida, milhares de pessoas tiveram de abrir mão da capacitação, abandonando as salas de aula, com o intuito de angariarem míseros salários que lhe garantissem as condições mínimas de vida. Mas os tempos já são outros, com a ascensão da tecnologia e o desejo de desenvolver o Brasil, a formação tornou-se necessidade de competitividade no cenário mundial e não há mais motivo para centralizar conhecimentos. Com a necessidade de qualificar o potencial produtor do país, surgiu o compromisso com a qualificação da mão-de-obra. Já não bastavam mais os atos mecânicos. A baixa formação passou a geras entraves na cadeia produtiva e o conhecimento passou a ser imprescindível. De fato, o trabalho abriu as portas para a universalização do ensino.

Com o intuito de universalizar o conhecimento, acabando com a centralidade e sob a bandeira de direitos e oportunidades iguais a todas as classes e faixas etárias, iniciaram-se projetos descontínuos e em sua maioria desastrosos de alfabetização, formando analfabetos funcionais, principalmente pela troca de partidos no governo e pela inexistência de oferta das demais séries na modalidade.

Hoje, após diversos ensaios, efetivamente estamos caminhando para a concretização dos objetivos a que esta modalidade se propõe. De fato, são desenvolvidas habilidades, é reconhecido o potencial do educando e oportunizada a troca de experiências, reconhecendo e valorizando os saberes de cada um.

Mas isso porque também avançamos nos debates acerca das metodologias e na formação dos educadores. Devido à defasagem e a condição de exclusão social destes alunos, muitos possuem a auto-estima baixa, desacreditam no seu potencial, não se reconhecem como importantes no cenário e sentem-se envergonhados, tendo certo receio de apresentar-se nas escolas. Considerando tudo isso, é fundamental que o educador de EJA tenha formação específica na área e um perfil diferenciado. É necessário que tenha a mente aberta, que proponha atividades diferenciadas, que promova a apropriação dos saberes e a cultura própria da comunidade onde estão inseridos, que respeite o educando, tendo o cuidado de não tratá-lo como uma criança adulta, mas reconhecendo-o como um adulto com limitações que necessita de motivação permanente para vencer as suas próprias barreiras e desbravar os caminhos do conhecimento.
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação de Jovens e Adultos valorizam o trabalho como principal fonte do conhecimento do aluno da EJA, destacando a importância de o educador apropriar-se do contexto do mercado de trabalho e do funcionamento do mercado produtivo. Ressaltam a necessidade da flexibilidade curricular, através do aproveitamento das experiências e visões do educando, como fonte de elaboração e reelaboração de conhecimentos. Logo, reconhece o trabalho como a maior fonte de conhecimento dos alunos. Conhecimento que deve ser valorizado como ponto inicial para apropriar-se da realidade do educando. A valorização deste conhecimento resultará na auto-afirmação do aluno, na ampliação do leque de discussão e na positiva troca de informações na turma.

Avaliação


Penso que o ponto chave da educação deveria ser a avaliação.

Se o aluno compreendesse a importância de se avaliar, receberia um grande ensinamento que contribuiria para a qualificação da sua capacitação profissional, visto que estaria aberto a críticas e à descoberta de suas fraquezas e dedicado à busca por melhoria.

De outro lado, em suas relações interpessoais tornar-se-ia uma pessoa mais acessível, mais tolerante e de fácil convivência. Passaria a reconhecer inicialmente as suas próprias falhas e não estufaria o peito apontando os erros alheios, como estamos habituados a proceder.

Hoje ainda vemos o critério quantitativo supervalorizado nas escolas.Ainda distribuímos o conhecimento em tabelas (que não são de acompanhamento) e ainda percebemos educadores distribuindo a seu critério o valor que julgam que deve ser atribuído a cada item.

Ainda vemos professores incitando a competição entre alunos, marcando seu veredito final com o vermelho do sangue, da vida, da morte. Ainda vemos (e muito) formas tradicionais de avaliação. Ainda encontramos sessões tortura de prova surpresa. Ainda vemos provas com hora marcada que desconsideram as questões física e psicológicas das crianças, como se fossem mecanicamente acionadas e controladas para estar aptas a cada momento proposto segundo o desejo do educador.

Já passei pela experiência de gabaritar um teste (que por azar, era um teste tradicional, utilizado anualmente pela educadora no mesmo formato, o qual meus colegas conseguiram as respostas com os alunos dos anos anteriores) e zerar uma prova sobre o mesmo tema, que a professora fez nova desta vez e aplicou depois de uma missa punindo os infratores e a turma inteira. Nunca me esqueço daquele dia, nem daquela professora. Fui humilhada e colocada na panela dos que colaram. Eu tinha culpa que no dia da prova que ela marcou para ferrar (literalmente ferrar) e se vingar dos alunos que colaram meu irmão estava sendo operado? Tenho culpa dela não ser comprometida e usar por anos (anos!) exatamente a mesma (mesmíssima) prova? Tenho culpa de que nos míseros segundos que ela me proporcionou para mostrar (aliás, provar) mais uma vez que tinha atingido as metas eu estava desesperada pensando se meu irmão estaria vivo no dia seguinte? Acho que até hoje ela pensa que eu colei naquele teste estúpido que ela não se deu o trabalho de elaborar.

Revolta com incompetência a parte, penso que a avaliação deve ocorrer de maneira permanente e séria. Penso que o educador deve realizar registros diários acerca das dificuldades, limites e avanços do aluno. Isso contribuirá para o enriquecimento do trabalho do professor, visto que ele terá precisão sobre os pontos que deve priorizar com cada criança e proporcionará a cada criança um monitoramento efetivoe qualificado.

Em contrapartida, a criança pode participar deste processo, afirmando quando sente-se segura acerca de cada item. Pode ser feito como na Escola da Ponte, uma tabela onde a própria criança registra seus avanços. Eu construía tabelas onde utilizava as marcas +, - ou +/- para registrar os conhecimentos de cada criança e assim me sentia mais preparada e segura para atendê-los e avalia-los.

E na hora da entrega de boletins, onde muitos educadores ainda atentam-se a observações gerais e ao relato de pequenos episódios isolados, onde eles mesmos não tiveram o “controle” da turma, dedicava-me a analisar registros de conceitos com os pais, demonstrando o que foi A (atingido plenamente), PA (parcialmente atingido) ou NA (não atingido). E aliás, o que era NA voltava à vida daquela criança após a entrega dos boletins para que sendo oportunizado o acesso, ela tivesse mais alternativas para amadurecer aqueles conhecimentos. Pedra só se coloca em cima do que não é relevante ou deve ser esquecido...logo, pedra se coloca em cima do que não se precisa ensinar.

Projeto de Aprendizagem


Eis que o mais odiado de todos, o projeto de aprendizagem, na minha opinião, foi a maior sacada da graduação.
Talvez tenha sido o instrumento mais rico ao qual tivemos acesso.


Na era do conhecimento, não bastam diplomas, não bastam apadrinhamentos. É necessário que se tenha a informação. Aliás, há quem entre risos alega que é preciso saber quem tem a informação ou ter dinheiro para compra-la. Eu penso que vivemos na era onde as pessoas precisam saber como, onde e quando podem conseguir a informação e o projeto de aprendizagem auxilia neste processo.


Saímos da era da obediência inflexível e irrefletida, para a era do multiprofissionalismo. Ainda não investe-se em profissionais peritos. Digo, investe-se, mas prioriza-se aqueles que possuem maior número de habilidades.

Segundo Freire, a educação tradicional chamava-se educação bancária. O educador agia como se abrisse a cabeça do aluno e jogasse diversas informações na mesma, não preocupando-se como se dava o processo interno de interiorização desses dados. Aliás, o processo não se dava. Eu discordo em parte. Penso que o conhecimento não era injetado na cabeça, ele era atirado no colo do aluno e de maneira desesperadora este deveria decora-lo. Confesso que fiz muito disto. Há coisas que decorei, que levei anos para entender o que significavam. Há coisas que até hoje questiono a importância.

Pára tudo, que estamos no bonde errado. Olhemos pra frente.

Eis que sem saber, eu havia iniciado um PA. Logo no início do curso da UFRGS, quando não havíamos ouvido falar deste bicho de sete cabeças, percebi que meus alunos de turma de alfabetização possuíam fascínio por animais. Resolvi fazer um levantamento individual sobre os conhecimentos, dúvidas e curiosidades. Cada criança listou primeiramente “Tudo o que eu sei sobre os animais”. Desenharam. Scaneamos e iniciamos um blog. Não corrigi. À medida que fôssemos avançando na alfabetização, cada criança iria alterando suas postagens e reeditando sua escrita. Iríamos também pesquisar e ir registrando nossas descobertas confirmando ou negando conhecimentos que eles possuíam acerca do tema. Eu e eles estávamos empolgadíssimos! Eu soube até (e fiquei toda boba) que este trabalho foi mostrado na UFRGS. Mas... eu não consegui dar continuidade. Bem neste momento fui convidada a vir trabalhar na SMED e como a oportunidade era muito boa, eu aceitei e abandonei temporariamente as salas de aula.

Mas voltando a falar de PA. Como professora eu estava amando. Como aluna, eu inicialmente detestei. Achei extremamente difícil reduzir o leque da pesquisa. Eu não havia feito isso com as crianças. Note que partiu do que cada um sabia dos animais e a pesquisa não se reduziu a uma caminho ou a resposta de uma questão única. Confesso que naquela época, apesar do desejo intenso de desenvolver o projeto, estava preocupada com o direcionamento. Mas também confesso, que a preocupação maior era inseri-los na comunidade internauta e auxilia-los a irem crescendo no processo de alfabetização, através da construção permanente de registros.