sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Freinet e Montessori

Nossa, que delícia ler sobre Freneit e Montessori!

É sempre muito bom conhecer a origem de boas idéias. E note, que não são novas.

Nunca utilizei e nunca tive a idéia de fazer correspondência entre escolas, nem entre turmas. Veja que idéia simples e bacana. Lembro-me que na minha infância, trocamos cartas na sala de aula e eu já julguei o máximo.Imagine receber do correio! Porque não saber de outro estado, de outra cidade ou país? Nos fechamos nas nossas fronteiras e infelizmente muitas vezes elas se encerram na porta da sala.

Não sabia que eram de Freinet as idéias da Escola da Ponte. Os cantinhos com diferentes instrumentos de pesquisa e aprendizagem... os espaços da sala de aula são uma idéia ótima, mas também refletem uma difícil mudança de paradigma. Temos dificuldade de não estar no controle... eu ao menos me assusto ainda um pouco com a idéia, apesar de julga-la magnífica! É difícil imaginar uma aula que não seja conduzida, criteriosamente acompanhada. Acho que ainda carregamos ass chagas do militarismo.

Montessori eu não conhecia, mas já utilizava suas idéias. Quando não tinha material dourado, usava fundos de garrafa e tampinhas. E sabe que eu achava mais gostoso? Usava prendedores de roupa e aos poucos , orgulhosamente, as crianças iam por si próprias abandonando o concreto e todas bobas fazendo a continha direto no caderno. Dar aula é uma festa!

Comunidade surda


Há anos atrás tive contato com uma menina surda e conseqüentemente em seus aniversários com seus amigos, que encontravam-se em igual situação. Eu tinha pena até conhece-los. Entrosavam-se com facilidade e comunicavam-se entre si com perfeita tranquilidade, prazer e harmonia.

Fiquei imaginando como deveriam se sentir em ambientes habitados por ouvintes, visto que me sentia completamente deslocada na ausência de tradutor. Fiquei fora do assunto e imaginando inclusive se falam de mim e se falavam, o que. Falando disso, lembro-me que ela sempre dizia que se casaria com um surdo, porque queria sempre saber o que o marido dela dizia dela. E de fato o fez. Interessante destacar que ele dirige. Coisa fantástica, não? Julgava isso uma função inexistente a essas pessoas.

Meus conhecimentos restringiam-se ao alfabeto e a vagas palavras como amigo, familiares, cumprimentos e verbos básicos (bem básicos). Estava completamente perdida. Mas o amargo da situação é que aquela era uma situação isolada. O comum é a exclusão ser no sentido contrário.

Aprendi que as comunidades surdas buscam alternativas para suprir suas limitações e conseqüentemente possuem hábitos únicos. Voltando a festa...lá, dançavam de pés descalços para sentir a vibração da música, olhavam atentamente para os lábios alheios (falando de ouvintes) para captar falas dos analfabetos em libras.

Percebi que na escrita usam verbos no infinitivo. Na época ainda não existia celular para o uso de mensagens: a moda eram cartinhas e bilhetinhos mesmo. Ela também não possuía telefone. Recados eram dados por tradutores de ambos lados da linha.

Interessante também era a forma como a família desta minha amiga agregava-se ao grupo, integrando a comunidade surda. Comunicavam-se junto com desenvoltura e harmonia, pertencendo a um mesmo grupo. Mas essa não é a regra. Ela possuía recursos financeiros. Aliás, muitos recursos.

O praxe, é a vivência de Jonas. Sem apoio, sem condições financeiras, exclusão social, incompreensão. Que bom que a legislação incluiu libras no currículo. Aliás, a lei é de quando? E qual a carga horária mesmo? Será que um real investimento na icnlusão não deveria confiigurar na exigência de uma carga horária que garantisse pelo menos o conhecimento básico da língua? Quem de nós sairá desta faculdade sabendo conhecimentos mínimos de libras? Não estou criticando a universidade, ela segue os padrões legalmente definidos. Olha, eu apanhei e muito pra encontrar palavras no vídeo de conversação da educadora que compreendesse. Olhei de cabo a rabo o dicionário (que deixei salvo no computador e no pendrive...muito bom! E a gente nunca sabe se vai precisar).

Penso que o Governo Federal deveria baixar uma norma sobre qualificação de todos para a inclusão social e deveria garantir cursos em todo país. Não podemos receber crianças de inclusão e aí nos ser oportunizada a capacitação. Precisamos estar preparados.

Planejamento

Achei muito interessante a atividade de revisão do planejamento e gostaria de retomar algumas questões sobre a reflexão propiciada.

1. Para o planejamento, você escolheu um tema a ser desenvolvido. Qual é a importância deste tema para os seus alunos, isto é, para o grupo para quem planejou, no dia de hoje? É um tema de que os alunos precisam hoje para resolver algum problema concreto? Para satisfazer alguma curiosidade?

Respondendo a questão, conclui que nunca havia me feito estes questionamentos. E eles passarão a integrar a minha vida de educadora e o meu cotidiano em sala de aula. Confesso que às vezes eu me questionava sobre a importância de conteúdos que estavam na lista e me sentia na obrigação de passar. Meu namorado dizia que minhas idéias revoluvionárias desvalorizavam conhecimentos tradicionais.

2. Qual é a relevância do tema escolhido para seus alunos no futuro? Em que o tema vai contribuir para a vida destes alunos?

Eu juro que me questiono até hoje qual a importância do substantivo ser abstrato ou concreto. Perdemos muito tempo de produção textual, nos dedicando a classificações inúteis.

3. Qual é o acesso que os seus alunos têm ao tema? O que eles já sabem sobre o tema? Onde o tema aparece no cotidiano dos alunos? O que pode motivá-los a trabalhar com este tema?

Pois é. Às vezes o acesso limita-se aos bancos escolares (usei o termo propositalmente para indicar a situação de ultrapassado). Penso que o que os motiva é a consciência de significatividade. Voltando ao substantivo. Eles sabem, que escrever e conhecer as normas de escrita é importante. Mas classificar substantivo na 4º ano, 5º ano?

4. De que forma esta atividade planejada se relaciona com outras áreas do conhecimento além da linguagem? Quais são elas?

Olha, se não se relaciona, não é importante. No mundo, tudo está integrado.

5. O tema escolhido poderia ser um tema desencadeador para desenvolver um projeto mais amplo e interdisciplinar? Seguindo as etapas como os projetos são desenvolvidos, o que você teria que fazer antes de explorar o tema da forma prevista? E o que você teria que fazer depois?

Essa, mata. Se não desencadeia um projeto, filho, é um subtema e aí você começou do ponto errado.

Falando de ponto, relembremos as etapas da construção de um projeto:

* ·

  • Relacionar as curiosidades das crianças sobre o tema, listar os conhecimentos que já possuem acerca dele e as dúvidas que cada um tem.
  • Pensar caminhos e métodos a serem utilizados para o estudo do tema.
  • Formar um planejamento com as crianças, sugerindo as etapas e prazos a serem seguidos
  • Iniciar a execução do projeto
  • Realizar as adaptações necessárias
  • Acolher novas sugestões
  • Agregar novas dúvidas
  • Confirmar certezas
  • Sintetizar os conhecimentos adquiridos.

Para concluir, quero destacar que construção de projeto não é novidade para nós. O que é novidade, é o método, como acabei de listar. Antigamente, fazíamos de conta que estávamos indo ao encontro das curiosidades das crianças. Na verdade, elegíamos a ordem dos conteúdos da lista e criávamos SOZINHOS um projeto de trabalho, agregando o que julgávamos mais ou menos relevante e iniciamos a execução da nossa criação, esperando que as crianças atingissem os objetivos que nós determinamos.

Hoje, fazer um projeto de aprendizagem implica em verdadeiramente acolher os interesses, dúvidas e curiosidades das crianças e criar com elas o projeto, definindo coletivamente os passos a serem seguidos e os objetivos a serem alcançados.

Alfabetização

Eu acho a alfabetização o máximo!

Acho formidável acompanhar a criança avançando os degrauzinhos da escrita e ir elaborando as suas teorias para criação da escrita.

É mágico perceber que uma hora elas enchem de símbolos, letras e números uma linha para escrever o nome de coisas grandes e outra hora já estão pensando atentamente a sonorização da sua grafia para completar a palavra de maneira correta.

Vamos relembrar cada fase:

· Pré-Silábica: ainda não entende que a escrita representa sons. Utiliza-se desenhos e sinais. Algumas, após desenharem o objeto chegam a afirmar “Eu escrevi... (tal coisa)”. É importante nesta fase destacar as diferenças entre desenhar e escrever. É muito bom trabalhar com a letra inicial e final das palavras, manusear livros, letras soltas, brincar com a escrita. É importante não pressionar a criança e garantir que ela não se sinta pressionada. A criança, apesar de elaborar as suas hipóteses, percebe que as suas crenças são distantes da firmeza dos colegas silábicos e alfabéticos e sente-se insegura e incomodada nesta fase.

· Silábica: quando compreende que a sílaba é um pedacinho da palavra, a criança passa a representar a escrita utilizando uma letra para cada sílaba.Algumas vezes, a letra utilizada para registrar a sílaba nem tem relação fonética com a palavra. Para mim, esta é a fase mais bonita e encantadora e eu a subdividia em duas: 1 – quando reconhece apenas o número de sílabas. 2 – quando já utiliza na escrita as letras da palavra. Exemplo: AM (bola – S1) BA (bola – S2). Penso que nesta fase o atendimento individualizado pelo professor, repensando com o aluno a escrita do mesmo e reelaborando-a seja o caminho para a mudança de etapa. Dar acesso a sílabas para a construção de novas palavras através da junção das mesmas. Escrever coletivamente.

· Alfabética: possui a noção de que a palavra é formada por sílabas e que as sílabas formam-se a partir da junção de fonemas. Mas é muito comum ter dificuldades ortográficas ou não redigir letras como R em final de sílaba/ final de palavra.

Penso que o processo de alfabetização conceitua-se como uma reconstrução permanente. Penso que o educador deve estar permanentemente motivando seus alunos, atendendo-os pacienciosamente, ajudando-os a pensarem sua escrita, a lerem e reescreverem seus registros. Sou a favor do reconhecimento inicial, por etapas, da sonoridade das letras, da dedicação à descoberta da letra inicial e final das palavras, para a partir daí realizar-se a construção de unidades maiores.

Não estou abominando os textos ou as frases. Penso que o acesso aos mesmos é imprescindível. Mas de uma forma ou outra, como numa porção de contagotas, a criança terá que começar a desvendar um a um os símbolos para desvendar o enigma. Nunca vou esquecer-me do belo alfabeto árabe (ilustrado, claro) que nos foi disponibilizado para descobrirmos a grafia de palavras ou traduzirmos para o português. O cansaço e o pavor de alunos adultos da turma ( e o meu também), me fizeram compreender, pensar e me sentir literalmente como uma criança analfabeta.

Marta e a EJA

Lendo Marta Kohl de Oliveira, refleti sobre a experiência que tive com alunos adultos. Destacava-se, durante a leitura, sempre a expressão “não crianças”, o que é o extremo oposto da formação de magistério. A nossa formação prepara nossa mente para o lúdico, para a conversa franca, o linguajar simples, a fantasia, o concreto. E isso é ótimo!

Na minha opinião, os alunos de educação de jovens e adultos exigem dedicação e preparo muito maior do educador, uma vez que o mesmo estará atendendo alunos diferentes do padrão de escolarização regular ao qual está habituado e na maioria das vezes para o qual foi preparado.

Assistindo as apresentações dos banners das colegas, sobre o retrato da EJA, percebi que na maioria das escolas observadas, os professores não possuem preparação específica e alguns nem a dedicação mínima. Isso é alarmante, uma vez que trata-se de uma parcela da sociedade frágil, que já passou por um processo de exclusão.

Nas salas de aula da EJA é imprescindível que o aluno seja motivado permanentemente, que seja resgatado da sua condição de inferioridade que é sua realidade há anos, visto que pela sua falta de conhecimento, pré-concebe que não tem condições de efetivar sua inserção social.

Acredito que devido ao fato de esses alunos se sentirem à parte da sociedade, a função principal da EJA seja a reinserção social.

Na opinião de Oliveira (1987, p. 19-29) “ o desenvolvimento das atividades escolares está baseado em símbolos e regras que não são parte do conhecimento de senso comum. Isto é, o modo de se fazer as coisas na escola é específico da própria escola e aprendido em seu interior.

Já passou da hora de repensarmos os modelos e utilizarmos metodologias que valorizem os conhecimentos e experiências do aluno, mostrando-lhe as suas contribuições para a vida em sociedade e resgatando, desta forma a sua auto-estima, bem como fundamentando a auto-confiança, imprescindível para o enfrentamento das dificuldades e expansão dos conhecimentos.

Freire partia da valorização da experiência e do interesse intenso sobre a vida, os desejos, os conhecimentos e as experiências de cada aluno. Freire partia dos pressupostos de que o conhecimento “contido” no aluno deve ser resgatado e reconhecido e de que a troca de experiências e a vivência de fato do conhecimento são as maiores fontes de crescimento.

Imagine você, sentindo-se inferiorizado, cansado de um dia inteiro de trabalho, preocupado com a saúde dos filhos, com a certeza de que estão bem alimentados, com a tristeza de não proporcionar-lhes o que deseja,sentar numa sala de aula onde são tratados assuntos que efetivamente não lhe farão diferença, que lhe roubarão horas de sono ou o pior, que você nem tem de fato idéia do que significam. Você apenas ouve e tenta decorar porque alguém está dizendo que são importantes.

Há coisa de dois meses atrás, participei de uma formatura do Programa EJA Intensivo. Lembro-me de ter me chocado ao ouvir uma professora me informar que um de seus alunos não se faria presente naquela noite, porque havia ficado fazendo hora extra na empresa. Fiquei abismada e revoltadíssima, percebendo como ainda o setor privado não investe e não apóia a qualificação profissional.

Estes jovens ocupam espaços no mercado de trabalho que exigem pouca qualificação; exigem esforço físico, são estressantes, configuram-se como atividades de repetição que acabam levando o esgotamento do corpo e comprometimento da saúde.

Mas a educação está ai para mudar este quadro. E eu acredito fielmente nisso. Mas aí, quem ocupará os cargos profissionais mau remunerados? Ah, claro, o desemprego e o medo da fome fazem o homem submeter-se a tudo. A hipocresia do mercado, alega oportunidade, para garantir a formação mínima necessária para garantir o lucro e a produtividade desejada.


Penso que a Educação de Jovens e Adultos tenha a função reparadora de promover às pessoas que não tiveram acesso à escola na idade adequada, a oportunidade de estudar.

Vivemos sob o regime do capitalismo, onde o poderio financeiro dita as regras, a sobrevivência está pautada na capacidade de compra e as relações sociais estão baseadas nas relações profissionais. Cada vez mais as pessoas acumulam riquezas e poder, na mesma medida em que vão ascendendo na pirâmide funcional. Em contrapartida, milhares de pessoas tiveram de abrir mão da capacitação, abandonando as salas de aula, com o intuito de angariarem míseros salários que lhe garantissem as condições mínimas de vida. Mas os tempos já são outros, com a ascensão da tecnologia e o desejo de desenvolver o Brasil, a formação tornou-se necessidade de competitividade no cenário mundial e não há mais motivo para centralizar conhecimentos. Com a necessidade de qualificar o potencial produtor do país, surgiu o compromisso com a qualificação da mão-de-obra. Já não bastavam mais os atos mecânicos. A baixa formação passou a geras entraves na cadeia produtiva e o conhecimento passou a ser imprescindível. De fato, o trabalho abriu as portas para a universalização do ensino.

Com o intuito de universalizar o conhecimento, acabando com a centralidade e sob a bandeira de direitos e oportunidades iguais a todas as classes e faixas etárias, iniciaram-se projetos descontínuos e em sua maioria desastrosos de alfabetização, formando analfabetos funcionais, principalmente pela troca de partidos no governo e pela inexistência de oferta das demais séries na modalidade.

Hoje, após diversos ensaios, efetivamente estamos caminhando para a concretização dos objetivos a que esta modalidade se propõe. De fato, são desenvolvidas habilidades, é reconhecido o potencial do educando e oportunizada a troca de experiências, reconhecendo e valorizando os saberes de cada um.

Mas isso porque também avançamos nos debates acerca das metodologias e na formação dos educadores. Devido à defasagem e a condição de exclusão social destes alunos, muitos possuem a auto-estima baixa, desacreditam no seu potencial, não se reconhecem como importantes no cenário e sentem-se envergonhados, tendo certo receio de apresentar-se nas escolas. Considerando tudo isso, é fundamental que o educador de EJA tenha formação específica na área e um perfil diferenciado. É necessário que tenha a mente aberta, que proponha atividades diferenciadas, que promova a apropriação dos saberes e a cultura própria da comunidade onde estão inseridos, que respeite o educando, tendo o cuidado de não tratá-lo como uma criança adulta, mas reconhecendo-o como um adulto com limitações que necessita de motivação permanente para vencer as suas próprias barreiras e desbravar os caminhos do conhecimento.
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação de Jovens e Adultos valorizam o trabalho como principal fonte do conhecimento do aluno da EJA, destacando a importância de o educador apropriar-se do contexto do mercado de trabalho e do funcionamento do mercado produtivo. Ressaltam a necessidade da flexibilidade curricular, através do aproveitamento das experiências e visões do educando, como fonte de elaboração e reelaboração de conhecimentos. Logo, reconhece o trabalho como a maior fonte de conhecimento dos alunos. Conhecimento que deve ser valorizado como ponto inicial para apropriar-se da realidade do educando. A valorização deste conhecimento resultará na auto-afirmação do aluno, na ampliação do leque de discussão e na positiva troca de informações na turma.

Avaliação


Penso que o ponto chave da educação deveria ser a avaliação.

Se o aluno compreendesse a importância de se avaliar, receberia um grande ensinamento que contribuiria para a qualificação da sua capacitação profissional, visto que estaria aberto a críticas e à descoberta de suas fraquezas e dedicado à busca por melhoria.

De outro lado, em suas relações interpessoais tornar-se-ia uma pessoa mais acessível, mais tolerante e de fácil convivência. Passaria a reconhecer inicialmente as suas próprias falhas e não estufaria o peito apontando os erros alheios, como estamos habituados a proceder.

Hoje ainda vemos o critério quantitativo supervalorizado nas escolas.Ainda distribuímos o conhecimento em tabelas (que não são de acompanhamento) e ainda percebemos educadores distribuindo a seu critério o valor que julgam que deve ser atribuído a cada item.

Ainda vemos professores incitando a competição entre alunos, marcando seu veredito final com o vermelho do sangue, da vida, da morte. Ainda vemos (e muito) formas tradicionais de avaliação. Ainda encontramos sessões tortura de prova surpresa. Ainda vemos provas com hora marcada que desconsideram as questões física e psicológicas das crianças, como se fossem mecanicamente acionadas e controladas para estar aptas a cada momento proposto segundo o desejo do educador.

Já passei pela experiência de gabaritar um teste (que por azar, era um teste tradicional, utilizado anualmente pela educadora no mesmo formato, o qual meus colegas conseguiram as respostas com os alunos dos anos anteriores) e zerar uma prova sobre o mesmo tema, que a professora fez nova desta vez e aplicou depois de uma missa punindo os infratores e a turma inteira. Nunca me esqueço daquele dia, nem daquela professora. Fui humilhada e colocada na panela dos que colaram. Eu tinha culpa que no dia da prova que ela marcou para ferrar (literalmente ferrar) e se vingar dos alunos que colaram meu irmão estava sendo operado? Tenho culpa dela não ser comprometida e usar por anos (anos!) exatamente a mesma (mesmíssima) prova? Tenho culpa de que nos míseros segundos que ela me proporcionou para mostrar (aliás, provar) mais uma vez que tinha atingido as metas eu estava desesperada pensando se meu irmão estaria vivo no dia seguinte? Acho que até hoje ela pensa que eu colei naquele teste estúpido que ela não se deu o trabalho de elaborar.

Revolta com incompetência a parte, penso que a avaliação deve ocorrer de maneira permanente e séria. Penso que o educador deve realizar registros diários acerca das dificuldades, limites e avanços do aluno. Isso contribuirá para o enriquecimento do trabalho do professor, visto que ele terá precisão sobre os pontos que deve priorizar com cada criança e proporcionará a cada criança um monitoramento efetivoe qualificado.

Em contrapartida, a criança pode participar deste processo, afirmando quando sente-se segura acerca de cada item. Pode ser feito como na Escola da Ponte, uma tabela onde a própria criança registra seus avanços. Eu construía tabelas onde utilizava as marcas +, - ou +/- para registrar os conhecimentos de cada criança e assim me sentia mais preparada e segura para atendê-los e avalia-los.

E na hora da entrega de boletins, onde muitos educadores ainda atentam-se a observações gerais e ao relato de pequenos episódios isolados, onde eles mesmos não tiveram o “controle” da turma, dedicava-me a analisar registros de conceitos com os pais, demonstrando o que foi A (atingido plenamente), PA (parcialmente atingido) ou NA (não atingido). E aliás, o que era NA voltava à vida daquela criança após a entrega dos boletins para que sendo oportunizado o acesso, ela tivesse mais alternativas para amadurecer aqueles conhecimentos. Pedra só se coloca em cima do que não é relevante ou deve ser esquecido...logo, pedra se coloca em cima do que não se precisa ensinar.

Projeto de Aprendizagem


Eis que o mais odiado de todos, o projeto de aprendizagem, na minha opinião, foi a maior sacada da graduação.
Talvez tenha sido o instrumento mais rico ao qual tivemos acesso.


Na era do conhecimento, não bastam diplomas, não bastam apadrinhamentos. É necessário que se tenha a informação. Aliás, há quem entre risos alega que é preciso saber quem tem a informação ou ter dinheiro para compra-la. Eu penso que vivemos na era onde as pessoas precisam saber como, onde e quando podem conseguir a informação e o projeto de aprendizagem auxilia neste processo.


Saímos da era da obediência inflexível e irrefletida, para a era do multiprofissionalismo. Ainda não investe-se em profissionais peritos. Digo, investe-se, mas prioriza-se aqueles que possuem maior número de habilidades.

Segundo Freire, a educação tradicional chamava-se educação bancária. O educador agia como se abrisse a cabeça do aluno e jogasse diversas informações na mesma, não preocupando-se como se dava o processo interno de interiorização desses dados. Aliás, o processo não se dava. Eu discordo em parte. Penso que o conhecimento não era injetado na cabeça, ele era atirado no colo do aluno e de maneira desesperadora este deveria decora-lo. Confesso que fiz muito disto. Há coisas que decorei, que levei anos para entender o que significavam. Há coisas que até hoje questiono a importância.

Pára tudo, que estamos no bonde errado. Olhemos pra frente.

Eis que sem saber, eu havia iniciado um PA. Logo no início do curso da UFRGS, quando não havíamos ouvido falar deste bicho de sete cabeças, percebi que meus alunos de turma de alfabetização possuíam fascínio por animais. Resolvi fazer um levantamento individual sobre os conhecimentos, dúvidas e curiosidades. Cada criança listou primeiramente “Tudo o que eu sei sobre os animais”. Desenharam. Scaneamos e iniciamos um blog. Não corrigi. À medida que fôssemos avançando na alfabetização, cada criança iria alterando suas postagens e reeditando sua escrita. Iríamos também pesquisar e ir registrando nossas descobertas confirmando ou negando conhecimentos que eles possuíam acerca do tema. Eu e eles estávamos empolgadíssimos! Eu soube até (e fiquei toda boba) que este trabalho foi mostrado na UFRGS. Mas... eu não consegui dar continuidade. Bem neste momento fui convidada a vir trabalhar na SMED e como a oportunidade era muito boa, eu aceitei e abandonei temporariamente as salas de aula.

Mas voltando a falar de PA. Como professora eu estava amando. Como aluna, eu inicialmente detestei. Achei extremamente difícil reduzir o leque da pesquisa. Eu não havia feito isso com as crianças. Note que partiu do que cada um sabia dos animais e a pesquisa não se reduziu a uma caminho ou a resposta de uma questão única. Confesso que naquela época, apesar do desejo intenso de desenvolver o projeto, estava preocupada com o direcionamento. Mas também confesso, que a preocupação maior era inseri-los na comunidade internauta e auxilia-los a irem crescendo no processo de alfabetização, através da construção permanente de registros.

domingo, 11 de outubro de 2009

Projeto de Aprendizagem

Achei muito interessante desenvolver um projeto de aprendizagem e realizar uma reflexão sobre o desenvolvimento do mesmo.
É uma excelente forma de propiciarmos ao aluno a busca das respostas de suas maiores curiosidades, permitindo a livre condução do conhecimento, engessado muitas vezes pelas diretrizes escolares.
O desenvolvimento de um PA também incita na criança a noção do desenvolvimento de pesquisa e de sua capacidade de direcionar seu conhecimento, aprimorando-o. Motiva-o a tomar atitudes, firmar, refutar e reelaborar opiniões, não condicionando-se ao "ordenamento" do educador para cada ato.
Penso que o PA seja um método de pesquisa centrado no aluno, que auxiliá-o a ser cidadão.
Através deste tipo de trabalho, a criança se vê autora.
Penso que seja imprescindível o monitoramento e auxílio do educador no desenvolvimento do trabalho, mas principalmente na definição da pergunta que centrará a pesquisa, visto que de sua elaboração resultará o início do sucesso ou o fim da pesquisa. Uma pergunta pouco específica, mantém um leque de conhecimento amplo e prejudica o grupo pela falta de norte, Em contra-partida, a especificidade não pode determinar o esclarecimento das dúvidas a partir de uma breve leitura de um texto. A questão inicial deve ser desafiadora.
O PA deve utilizar-se das mais variadas ferramentas, o que implicará na riqueza de informações ofertadas: vídeos, músicas, leituras, entrevistas, debates, participação de outras pessoas fora do grupo.
Cada nova dúvida surgida a partir da pesquisa deve ser incorporada ao projeto aprimorando o conhecimento oferecido pelo mesmo.
O PA deve ter a duração que a curiosidade do grupo determinar. Apesar de ser necessário um limite comunicado pelo educador, não deve ser obrigatório o compromisso desta data, visto que a dedicação do grupo pode ter encerrado as dúvidas, ou apesar de sua participação com afinco, novas dúvidas podem ter ampliado as idéias iniciais de pesquisa.
O PA é uma excelente ferramenta de aprendizagem!

sábado, 12 de setembro de 2009

Aula presencial Libras

A primeira aula de Libras foi espetacular!


Como comentei na minha última postagem, a professora iniciou comunicando que Libras tem uma gramática própria.

Na aula, achei interessantíssimo os destaques da professora sobre a existência de uma comunidade surda com cultura e identidades próprias.

Procurando alguns exemplos sobre a cultura surda na internet, encontrei esta foto belíssima de uma apresentação artística.
Já assisti em diversas vezes uma apresentação fantástica de Hip Hop da APADA de Sapiranga e performances teatrais com versões divertidas e emocionantes. Penso que convidá-los para uma apresentação e bate-papo numa aula presencial seria uma idéia muito enriquecedora.

Falando de identidade surda, eu achei louvável a participação no Miss Brasil de Vanessa, Miss Ceará.
Na foto, destaque para o momento da comunicação em Libras durante o concurso.






Bem, esta identidade implica em ações e equipamentos específicos, como o uso do TDD antigamente, telefone ao qual poucas pessoas tinham acesso, substituído na atualidade pelos celulares e MSN que propiciam a agilidade na comunicação via mensagens.

Eu nem sabia que isso existia...



Eu também não sabia que existia o Dia do Surdo - 26 de setembro, que marca a vinda de um professor francês ao Brasil a convite do imperador a fim de ensinar crianças surdas.

Referente a libras em si, aprendemos uma classificação de sinais:

* Sinais icônicos: que mesmo desconhecendo libras, sabe-se a que palavra se referem
















* Sinais arbitrários: que não tem semelhança com o objeto.

* Sinais semelhantes: referem-se a palavras diferentes, identificando-se pelo contexto.



Cor laranja e fruta laranja - percebe-se de qual a pessoa se refere conforme o contexto.






E o que eu achei ainda mais legal: assim como temos palavras com em português, há palavras que são compostas em Libras, como:


escola (casa + estudar)








igreja (casa + cruz)





Como é bom uma aula presencial cheia de
práticas e bem explorada!

Acho que esta disciplina será inesquecível!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Comênio


Eu quase me peguei idolatrando Comênio...
Tá certo que suas idéias eram extremamente inovadoras para a época e apesar da distância temporal algumas são contemporâneas, como:
* proporcionar momentos prazerosos de estudo;
* reduzir o excesso de atividade e gerar melhor aproveitamento de cada ação;
* dosar atividades com momentos de descontração;
* tomar cuidado para não magoar a criança;
* valorizar os princípios morais e a formação da personalidade;
* graduar o conhecimento;
* dar acesso a conhecimentos compatíveis com a faixa etária;
* investir em experiências e uso de concreto;
* estímular e valorizar os sentidos.
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Mas é importante que também tenhamos ciência do que não é válido na Didática Magna, para que não saiamos por aí proclamando uma perfeição inexistente. Comênio também acreditava que:
* o homem era tábua rasa, como declarava Aristóteles, devendo o professor grafar os valores desejados e as idéias certas;
* somente na tenra idade a educação se desenvolveria (desacreditava na educação de adultos);
* a educação deveria ocorrer sempre pela manhã (não reconhecendo diferentes relógios biológicos. Minha filha só rende à tarde);
* a diversidade de inteligências era uma deficiência a ser resolvida;
* deveria haver apenas um educador e um autor para cada matéria (engessando o conehcimento e aprisionando-o às idéias de um único intelectual);
* a proximidade com alunos era algo que deveria ser inquestionavelmente evitado, devendo o professor jamais atender no individual, manter a distância e realizar explicações ou dar respostas somente para o coletivo;
* apesar de o ensino de tudo ser garantido a todos, certos livros não deveriam chegar nas mãos das mulheres.
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Para encerrar eu desejo fazer alguns recortes dela que achei muito interessantes:
A Didática Magna era dedicada aos pais, escolas, professores e alunos:
"Aos estudantes, porque poderão, sem dificuldade, sem tédio, sem gritos e sem pancadas, como que divertindo-se e jogando, ser conduzidos para os altos cumes do saber."
"37.Por isso, daqui para o futuro:
I. Em primeiro lugar, formar-se-á a inteligência para a compreensão das coisas; em segundo lugar, a memória; em terceiro lugar, a língua e as mãos.
II. O professor deverá procurar todos os caminhos de abrir a inteligência e fazê-los percorrer de modo conveniente."
"50. Daqui paia o futuro, portanto:
I. Distribua-se cuidadosamente a totalidade dos estudos em classes, de modo que os primeiros abram e iluminem o caminho aos segundos, e assim sucessivamente.
II. Distribua-se meticulosamente o tempo, de modo que a cada ano, mês, dia e hora seja atribuída a sua tarefa especial.
III. Observe-se estritamente esse horário e essa distribuição das matérias escolares, de modo que nada seja deixado para trás e nada seja invertido na sua ordem."
"Dez fundamentos dessa facilidade.

2. Se observarmos as pegadas da natureza, torna-se-nos evidente que a educação da juventude se processará facilmente, se:
I. Começar cedo, antes da corrupção das inteligências.
II. Se fizer com a devida preparação dos espíritos.
III. Proceder das coisas gerais para as coisas particulares.
IV. E das coisas mais fáceis para as mais difíceis.
V. Se ninguém for demasiado sobrecarregado com trabalhos escolares.
VI. Se em tudo se proceder lentamente.
VII. E se os espíritos não forem constrangidos a fazer nada mais que aquilo que desejam fazer espontaneamente, segundo a idade e por efeito do método.
VIII. Se todas as coisas forem ensinadas, colocando-as imediatamente sob os sentidos.
IX. E fazendo ver a sua utilidade imediata.
X. E se tudo se ensina sempre com um só e o mesmo método."
"38. Daqui para o futuro, portanto:
I. A nada se obrigue a juventude, a não ser àquilo que a idade e a inteligência, não só admitem, mas até desejam.
II. Nada se obrigue a aprender de cor, a não ser aquilo que a inteligência compreendeu perfeitamente. E não se obrigue uma criança a recitar de cor uma lição, sem se ter a certeza de que ela a compreendeu.
III. Nada se mande fazer, a não ser depois de haver mostrado a sua forma e indicado a regra que deve seguir-se para a executar."
"3. Em resumo, devem proporcionar-se ao adolescente, que deseja penetrar a fundo as partes mais intrincadas das ciências, as quatro condições seguintes:
I. Que tenha puros os olhos da inteligência;
II. Que os objetos lhe estejam próximos;
III. Que preste atenção; e então
IV. Que se lhe ofereçam as coisas que estão relacionadas com outras coisas, com o devido método.
Assim, compreenderá tudo, bem e depressa."
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Comênio deve ter chocado muito a sua época. Suas idéias eram revolucionárias e sua visão inovadora. Num mundo teocentrista, focar o aluno como centro do processo educacional sem dúvida foi no mínimo um ato de coragem. E o mais impressionante é que mais de 300 anos depois, muitas de suas idéias ainda nos fazem refletir e agregar críticas e uma nova visão a nossa prática.

Didática



Realizando a leitura sobre planejamento fiz uma pequena viagem pela minha experiência como educadora.
Retomei cadernos antigos para analisar meus apontamentos e até o relatório de estágio de Magistério passou pelas minhas mãos e olhos atentos em busca da reflexão sobre o tema proposto.
Bem, vale registrar que como toda aluna de magistério eu morri de raiva em criar o tal do Plano de Ensino. Julguei uma babaquice ficar pensando que tipo de sociedade eu desejava formar, sem me dar por conta que na verdade essa reflexão era imprescindível para nortear o planejamento de cada uma das atividades de aula. Se eu não tivesse definido que tipo de ser humano eu desejava que meu aluno fosse na posteridade, como eu conseguiria criar atividades específicas para auxiliá-lo a desenvolver certos valores e potencialidades?
Pois bem, na prática, o Plano de Ensino dá muita tranquilidade ao educador, porque ele tem um caminho pré-definido para seguir. É claro que ele muda a medida que vai transcorrendo o processo. O professor vai conhecendo a turma, vai compreendo as necessidades de cada aluno, vão surgindo novos desafios e idéias que inicialmente pareciam fabulosas demonstram-se ultrapassadas e ineficientes para aquela turma. Mas já há um caminho. Na própria Escola da Ponte há caminhos...o aluno simplesmente define o trajeto a ser percorrido, deslocando-se nos pontos conforme deseja, mas o fato é que os pontos estão lá.
Bem, quando iniciei a carreira de Magistério no estado, achei super interessante que na escola que lecionei havia um acompanhamento detalhado de cada aluno, especificando-se cada objetivo específico e oportunizando-se diversas possibilidades de recuperação daquele item ao aluno. Na entrega de boletins os pais recebiam um parecer, aliás, uma folha com estes objetivos e ao lado colunas marcadas conforme a realidade de cada criança: atingiu plenamente, atingiu parcialmente, não atingiu. Tanto eu quanto os pais possuíamos um raio X dos conhecimentos dos alunos.
Assumindo em Sapiranga uma turma de alfabetização, passei a utilizar um caderno onde registrava o avanço de cada criança e duas deficiências, o que era muito valoroso. O que não era válido era a forma como as aulas eram controladas. Possuíamos projetos pré-definidos, com número de dia letivo e número de aula. Havia número exato de aulas para cada projeto e tema, devidamente controlados pela coordenação e não era flexibilizado conforme o interesse e necessidade da turma. Era uma verdadeira bomba-relógio. A idéia da coordenação da SMED da época era que se um aluno fosse transferido ele não se sentiria perdido na nova escola. Ele chegaria e estariam trabalhando exatamente a mesma coisa que na escola onde ele estava. Eu abominava aquilo. E essa experiência fez com que eu passasse a amar a possibilidade de ter que passar horas quebrando a cuca realizando um pré-planejamento do que pretendo desenvolver com meus alunos e ter a liberdade de alterar conforme a necessidade.

Acredito na interdisciplinaridade, na conexão de conteúdos, no aproveitamento do conhecimento do aluno, no uso da experiência e do concreto, na valorização da criação de cada aluno independente do nível em que se encontre para o fomento do desenvolvimento de suas potencialidades.

Acredito no papel do planejamento: quem não define foco, não sabe pra onde vai.

Linguagem



É, a linguagem é um espetacular artefato que propicia a facilitação da harmonia na convivência, garantindo a comunicação dos seres humanos. Pra comprovar isso basta pensar passar um dia que seja num país onde desconheça-se a língua. Já pensou o pavor de não saber como perguntar onde tem banheiro ou fazer-se entender quanto ao que se deseja comer ou beber?
Mas mesmo dentro do mesmo país e sob a mesma língua oficial, a língua tem suas peculiaridades. Comentava num trabalho da interdisciplina que acredito que a criança deve ter acesso a diversos portadores de texto e que a escola por muito tempo supervalorizou os discursos formais e as histórias em quadrinhos que são tão admiradas pelas crianças e chamam tanto a sua atenção ganhando dedicação eram tidas como lixo comercial.
A pouco tempo, uma colega formou-se pela UNISINOS fazendo o trabalho de conclusão voltado à importância das histórias em quadrinhos para a alfabetização.
Acho interessante que na língua espanhola inclusive existem vocábulos para a formalidade e para a informalidade, destacados inclusive na gramática. Trata-se de tú e usted. O pronome usted deve ser utilizado para dirigir-se a pessoas mais velhas, importantes ou àquelas que desconhecemos. O tú utiliza-se para amigos, colegas, pessoas da mesma idade. A grámatica brasileira supervaloriza o discurso formal.
Mas, penso que em termos de linguagem já avançamos muito. A escola cada vez mais abre espaço para multiplicidade de discursos. Aliás, vale ressaltar que discursos vestem diversas roupagens e que em cada área profissional acabam povoando uma ilha, que só quem se especializa tem acesso. Mas até isso com o adevnto da globalização e internet está perdendo espaço. Hoje há até quem vá ao médico com seu diagnóstico pronto.
Concluindo, gostaria de dizer que inicio esta interdisciplina cheia de expectativas, porque sou uma apaixonada pela linguagem e tinha um desejo imenso em me especializar na alfabetização, mas na cadeira que tivemos ficou evidente pra mim os erros cometidos, como o conflito a que a criança é submetida a ter acesso ao alfabeto ilustrado na sala, os exercícios cansativos e inúteis para a evolução da escrita. Mas confesso que fiquei me questionando sobre afinal, quais serão os caminhos corretos a seguir. Será que os métodos que eu utilizava são aceitáveis? Bem, o certo é que a minha turma, apesar de eu ter saído em outubro pra assumir na SMED teve a maior aprovação da escola. E foi meu primeiro ano de alfabetização.Espero que esta interdisciplina me ajude a encontrar caminhos atualizados e eficientes para sentir-me extremamente capaz de utilizar as ferramentas certas para alfabetizar.

Libras


Mais um sonho realizado: eu tinha uma vontade imensa em aprender libras.É uma forma fantástica de ultrapassar-se uma barreira quase intransponível quando do desconhecimento deste recurso.

Eu tinha uma amiga surda, divertidíssima, super sensível e inteligente, mas o meu conhecimento acabou resumindo-se no alfabeto mesmo, sabe como é a comodidade, a irmã dela acabava traduzindo tudo.
Achava interessante que quando ela me escrevia utilizava todos os verbos no infinitivo e eu ficava na dúvida sobre o tempo a que ela se referia. Era passado, presente ou futuro? Veja quantos desafios encontram-se em "pequenos" detalhes.
Mas falemos da teoria...
eu aproveitei a ansiedade do início das aulas pra dar uma rastreadinha na internet...
um dicionário on-line com vídeo em libras demonstrando como se fala a palavra, acompanhado do conceito dela
Nossa, neste site eu descobri que libras não são somente gestos, mas uma língua com estrutura gramatical.
E pasme existe legislação para Libras. Trata-se da LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002. Bacana, né? Você pode acessá-la neste site aí. Incluo para facilitar o link direto http://www.libras.org.br/leilibras.php
Olha só o art. 4º...por isso não tivemos no Magistério...a lei é de 2002...
Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente.

Bem, e tem também o DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005.
Por este Decreto todos os estudantes de licenciaturas devem ter libras como disciplina curricular . Eu não sabia que existia curso de Licenciatura Plena em Libras!
E visitando o Youtube há uma riqueza de sugestões...
Lição 1 - Alfabeto manual creio que seja o princípio de tudo...
Pai Nosso em Libras...achei uma versão com legenda!!!

Educação de Jovens e Adultos




Pensar a educação de jovens e adultos no Brasil, de certa forma é perceber um investimento que vem atender um débito nacional com a educação de milhares de pessoas que estiveram a serviço do país, dedicando-se exclusivamente à vida profissional em troca de modesta sobrevivência.Mas também e acima de tudo, um investimento na capacitação profissional de milhares de brasileiros que não se encaixam facilmente no mercado de trabalho, que com a industrialização e modernização em larga escala, necessitam de permanente capacitação. Se bem que é bom termos uma visão romantizada da política e acreditar no compromisso do bem comum, do bem estar e do investimento mero e exclusivo no ser humano sem segundas intenções.

A Educação de Jovens e Adultos no Brasil passou por um série de processos e inaugurou diversos projetos políticos. Inicialmente, houve um grande investimento na alfabetização destas pessoas e não percebia-se um compromisso em buscar para as mesmas a continuidade de estudos de acordo com a sua realidade.

Trabalhando no Setor de EJA da 2ª CRE, conver´sávamos muito sobre essa nossa preocupação e o pior no aumento do número de cursos e livreiros que agiam de má fé, explorando diversas pessoas. Deixe-me me explicar. Aparece um livreiro em uma fábrica fazendo uma propaganda formidável de um livro com todos os conteúdos, que garantiria a inscrição gratuita numa prova (ele mesmo faria) e os funcionários só teriam que ir a São Leopoldo realizá-las para garantir o Diploma de Ensino Fundamental/ Ensino Médio. Bem, eles não diziam que a prova era realizada pelo governo, que não havia garantia de aprovação, que a prova era realizada anualmente e havia aproveitamento das disciplinas aprovadas e o mais importante, que era gratuita e realizável com ou sem aquisição do livro.

Mas havia coisa pior: cursos preparatórios. Eles não deixavam claro o suficiente que não era necessário a pessoa cursar o preparatório deles para inscrever-se. Aliás, eles diziam que eram eles que certificavam. Eles. Olha o absurdo! "No final do curso você faz a prova e nós damos o certificado a você".Mas também vivenciei evoluções na EJA. De provas compradas e totalmente fora da realidade, no último ano que trabalhei neste setor foi formada uma junta de educadores do estado do Rio Grande do Sul que doram responsáveis pela elaboração de questões contextualizadas para a compoisção da prova. Foi um ato inovador e produtivo.

O estado que pouco investe na capacitação de seus profissionais proporcionava em São Leopoldo para os quase 200 municípios que pertenciam àquela coordenadoria capacitação profissional com as pessoas mais graduadas da área. Era muito motivador! Também supervisionávamos escolas de eja que estavam devidamente credenciadas. Foi uma grande aprendizagem trabalhar neste setor.

Aí, já em Sapiranga, conheci o Programa Integrar, filiado á CUT, que abordando temas diretamente voltados à vida das pessoas, proporcionava uma formidável formação. Sapiranga inovou criando o seu próprio material e método e lançando neste ano a sua primeira turma do Intensivo...será uma grande formatura!

Fechando e voltando aos conhecimentos propiciados na interdisciplina, a EJA, como consta no parecer e conforme minhas crenças, deve considerar os conhecimentos do educando, valorizar sua capcitação profissional e acima de tudo, promover a qualificação de suas potencialidades, o aprimoramento de seus conhecimentos, desenvolvimento de habilidades, o conhecimento de novas profissões ou áreas de trabalho, a universalização do conhecimento e o despertar da cidadania.

O maior compromisso da EJA acredito que seja elevar as pessoas a um patamar comum de convivência social, resgatando a auto-estima e inserindo de maneira justa diversas pessoas que por anos viveram à parte na nossa sociedade, se sentindo desprovidas de direitos e de participação na política e na definição dos rumos do país.

Último semestre?

Pois é, a jornada foi longa e euxastiva e finalmente entramos no último semestre de interdisciplinas...que me parecem muito interessantes. Aprendemos muito, deixamos conhecimento (que podem ser recuperados) para trás, nos dedicamos muito, nos dedicamos pouco, nos dedicamos o que conseguimos, mas o mais importante é que não abandonamos a jornada, nem desistimos do sonho.
Agora, fica a angústia dos dias contados nos dedos para o estágio. Nossa, o estágio!Parece que cada dia desta profissão fantástica transforma-se num ensaio de filme de terror...pânico geral. Parece que desaprendemos a educar e cada técnica, atividade é questionada nos mínimos detalhes sobre se estará dentro dos padrões desejados pelos supervisores.Como será a assistência para essa etapa? Estou aos nervos desde agora...
Mas assim é a vida, o momento mais difícil sempre ocorre na última etapa de uma longa jornada e antecede grandes conquistas!
No final, fica sempre o alívio da etapa vencida e mais um triunfo adquirido.

sábado, 25 de julho de 2009

Entre os muros da escola

Recorte inicial da internet...
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 2008, o filme é baseado no livro homônimo de François Bégaudeau (lançado no Brasil pela Martins Editora), que retrata a experiência de um professor ginasial – ele próprio – às voltas com uma turma que, à primeira vista, não parece muito afim de cooperar. Interpretado também por François, o personagem central da história tem de lidar não só com a falta de interesse dos alunos em sua disciplina mas com as diferenças sociais e o choque entre culturas africana, árabe, asiática e, claro, europeia, dentro das quatro paredes da sala de aula.
Rodado durante sete semanas em um colégio do leste de Paris, “Entre os muros da escola” tem ares de documentário e um elenco todo de não-atores – alunos, professores e pais. Louise é a princesinha da classe; Arthur, o emo de poucas palavras; Souleymane, o garoto marrento que chega às vias de fato com o professor e que, por isso, pode acabar expulso da escola... não fosse a aliança com Khoumba e Esmeralda, as amigas inseparáveis e tagarelas a quem, num momento de irritação, François chama de “vadias” – deslize este que pode acabar com mais uma expulsão: a do professor.

Confesso que fiquei muito aborrecida ao assitir ao filmee como nojo de todos, mas ele é uma reflexão forçada sobre o papel do professor, a importância e sentido do que é abordado em sala de aula, a cada vez mais urgente reflexão so bre a interação professor/ aluno e o papel do educador.

Assistindo ao filme, reparei numa sala de aula em permanente ebulição e um professor tradicional se esmerando em nensinar temas que nem ele mesmo percebe como fundamentais.

Imaginei aquela turma sendo desafiada através de projetos de aprendizagem, onde pesquisaria temas que estão no entorno e fora das muros da escola, longe da realidade do filme, que não ultrapassa os limites dela.

Minha primeira experiência em sala de aula foi assim. Com alunos de boa classe social e alunos que habitavam no lar da LBV ) Legião da Boa Vontade. Alunos que usavam tênis de marca e outros que utlizavam prego no chinelo Havaianas.

Passada a vontade inicial de sair correndo, comecei a desafiar aquelas crianças e oportunizar momentos de atividade coletiva em que os olhos de todos os alunos da escola eram voltados àquela turma e o principal, momentos em que foi primordial a atuação e intervenção dos excluídos que chegavam na escola com um ônibus amarelo quase fluorescente e eram discriminados por todo mundo. Até hoje meus queridos amigos de Gravataí devem afirmar como outrora, que até hoje, aquele foi o meu melhor ano. Acho que aquela foi a minha melhor turma.

Uma 4ª série onde priorizei atividades lúdicas, a construção conjunta e debatida do conhecimento e o uso permanente do visual e do concreto. Amo até hoje cada uma daquelas crianças, sem saber onde estejam. Elas souberam me desafiar e retirar o melhor de mim.
Hoje me lembro com saudade do túnel do terror que criamos na sala e fo a diversão no recreio de toda a escola, que passou a admirar aquelas crianças. Os colegas das outras turmas que olhava com ares discriminatórios para os meus pequeninos e grandes alunos (de crianças a adolescentes que estavam na turma) passaram a admirá-los pela sua criação e criatividade.
Mas como o mundo tem dois pólos, criamos de imediato o túnel da paz, com pinturas abstratas presas em TNT branco e lençóis, acompanhadas de frases de introspecção criadas pela turma. O fim desta jornada era um imenso espelho (empresntado do JNB) que levava à emoção a quem passasse pela turma.
Que grande oportunidade eu tive de conhecer pessoas tão diferentes e desafiadoras e por isso mesmo tão especiais.
Pra encerrar uma confissão que já fiz em psicologia: um aluno no iníco do ano (o mais endiabradinho) foi expulso da escola por colocar percevejos na cadeira de um colega. No fim do ano, um dos que mais amei (da LBV, claro) me confessou: Profe, lembra o lance do percevejo? Fui eu. Mas era brincandeira, não era pra machucar.
Onde andará o expulso/ convidado a se retirar que eu ajudei a discriminar injustamente? Auxiliei mais de 30 naquele ano, mas tavez destrui as esperanças de um... que deve pensar que a sociedade sempre o avaliará com negatividade... isso me dói.

Autismo

Como já disse, as palavras da Analissa, sobre como a UFRGS me acrescentu ao trabalho não saíram da cabeça...rsrsrsrrs

Recentemente recebemos o avô de um adolescente autista para oferecer os serviços de um médico especiaista na área em Porto Alegre. Ele diza que ee teve recursos para levar seu neto com muita frequência aos especialistas, mas questionou-nos quantas crianças não são diagnosticadas na rede e padecem peo atendimento ineficiente que necessitam.

Fui buscar umas dicas rápidas de fácil compreensão para diagnóstico:


Evidente que a avaliação deve ser realizada por um profissional da área, mas o primeiro olhar/ diagnóstico é do educador que busca a partir daí, ajuda.

DICAS INICIAIS PARA UM TRABALHO ADEQUADO

1) Muitas pessoas com autismo são pensadores visuais. Logo, longas explicações são inúteis e desnecessáras. A utilização de imagem é a maneira mais adequada de desenvolver a compreensão de conceitos e normas. Lembre-se: Pensam por imagens. NÃO pensam por linguagem.

2) Deve-se evitar séries de instruções verbais longas. Instruções longas devem ser escritas. Eles tem dificudade em formar imagens mentais e memorizar informações pertinentes a sequências.

3) Muitas crianças com autismo são bons desenhistas, artistas e programadores de computador. Veja! Encoraje! Eles tem total condição de ser incluídos e muito bem sucedidos profissionalmente. Auxilie-os a compreender e valorizar suas potencialidades.

4) Muitas crianças autistas têm fixação em um assunto, como trens ou mapas. Faça bom uso disso nas atividades escolares. Será garantia de envolvimento e dedicação.

5) Use métodos visuais concretos para ensinar números e conceitos. Lembra do lance das figuras mentais? Lembra que necessitam do concreto? Abuse de material dourado, cores e material concreto para frações.

6) "Eu tinha a pior letra da minha classe", o que fazer? Dizem os especialistas que como autistas tem dificuldade motora, para não gerar frustração, em alguns casos o melhor é ncentivar a digitação. Lembre-se de que trata-se de inclusão. Incluir o diferente não é tratar igual. Mesmas regras e métodos geram exclusão.

7) O desafio de aprender a ler. Bem, o autista autor destas dicas aprendeu pelo método fonético. Refere-se que cada caso é um caso...

8) O incômodo com sons altos. Fiz questão de trazer a citação do autor na íntegra pela importância do que diz " Quando eu era uma criança, sons altos como o da campainha da escola, feriam os meus ouvidos como uma broca de dentista fere um nervo. Crianças com autismo precisam ser protegidas de sons que ferem seus ouvidos. Os sons que causam os maiores problemas são: campainhas de escola, zumbidos no quadro de pontuação dos ginásios, som de cadeiras se arrastando pelo chão. Em muitos casos a criança estará pronta para tolerar o sino ou zumbido se ele for abafado simplesmente pelo recheio de um tecido, papel ou um tipo de cadarço ou cordão. O arrastar de cadeiras pode ser silenciado com colocação de borrachas de tênis ou carpetes. A criança pode temer uma determinada sala, porque tem medo que de repente possa ser submetida ao agudo do microfone vindo do sistema amplificador. O medo de um som horrível pode causar péssimo comportamento."

9) Algumas pessoas autistas são importunadas por distrações visuais ou luzes fluorescentes. Meus Deus, você sabia que o ideal é ficarem perto de janelas e longe de lâmpadas fluorescentes? Ou que sendo impossível evitá-las, usar as mais novas porque tremem menos, visto que os autistas (alguns) enxergam a centelha do ciclo 60 de eletricidade?

10) Algumas crianças autistas hiperativas serão por vezes acalmadas se elas forem vestidas com um colete com enchimento. Nossa! Que desafio! A pressão da roupa acalma o sistema nervoso...e o ideal é deixá-la por 20 minutos e retirá-la para que o sistema nervoso não se adapte a ela.

11) Interação para melhorar o contato visual e a fala. "Algumas pessoas com autismo em particular, responderão melhor e terão melhorado o contato visual e a fala se o professor interagir com elas enquanto estiverem nadando ou rolando em uma esteira. A introdução sensória pelo balanço ou a pressão de esteira algumas vezes ajuda a melhorar a fala. O balanço pode ser feito como um jogo divertido. Ele NUNCA deve ser forçado."

12) Algumas crianças e adultos podem cantar melhor que falar. Algumas necessitam que o educador fale com suavidade, outras precisam da musicalidade da fala.

13) Algumas crianças e adultos não-verbais podem não processar estímulos visuais e auditivos ao mesmo tempo. Alguns são monocanais. Ou olham ou escutam em um momento.

14) Em crianças não-verbais mais velhas e adultos, o tato é algumas vezes seu senso mais confiável. Que tal entender s rotina através do tato de objetos? Como por exemplo, entender que se aproxima a refeição ao segurar um talher? E que tal aprender letras e números apalpando-os?

Nossa, a inclusão é um grande e verdadeiro desafio! Mas o mais bacana de tudo, é aos poucos ir constatando seus avanços e perfeita aplicabilidade!