terça-feira, 8 de setembro de 2009

Comênio


Eu quase me peguei idolatrando Comênio...
Tá certo que suas idéias eram extremamente inovadoras para a época e apesar da distância temporal algumas são contemporâneas, como:
* proporcionar momentos prazerosos de estudo;
* reduzir o excesso de atividade e gerar melhor aproveitamento de cada ação;
* dosar atividades com momentos de descontração;
* tomar cuidado para não magoar a criança;
* valorizar os princípios morais e a formação da personalidade;
* graduar o conhecimento;
* dar acesso a conhecimentos compatíveis com a faixa etária;
* investir em experiências e uso de concreto;
* estímular e valorizar os sentidos.
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Mas é importante que também tenhamos ciência do que não é válido na Didática Magna, para que não saiamos por aí proclamando uma perfeição inexistente. Comênio também acreditava que:
* o homem era tábua rasa, como declarava Aristóteles, devendo o professor grafar os valores desejados e as idéias certas;
* somente na tenra idade a educação se desenvolveria (desacreditava na educação de adultos);
* a educação deveria ocorrer sempre pela manhã (não reconhecendo diferentes relógios biológicos. Minha filha só rende à tarde);
* a diversidade de inteligências era uma deficiência a ser resolvida;
* deveria haver apenas um educador e um autor para cada matéria (engessando o conehcimento e aprisionando-o às idéias de um único intelectual);
* a proximidade com alunos era algo que deveria ser inquestionavelmente evitado, devendo o professor jamais atender no individual, manter a distância e realizar explicações ou dar respostas somente para o coletivo;
* apesar de o ensino de tudo ser garantido a todos, certos livros não deveriam chegar nas mãos das mulheres.
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Para encerrar eu desejo fazer alguns recortes dela que achei muito interessantes:
A Didática Magna era dedicada aos pais, escolas, professores e alunos:
"Aos estudantes, porque poderão, sem dificuldade, sem tédio, sem gritos e sem pancadas, como que divertindo-se e jogando, ser conduzidos para os altos cumes do saber."
"37.Por isso, daqui para o futuro:
I. Em primeiro lugar, formar-se-á a inteligência para a compreensão das coisas; em segundo lugar, a memória; em terceiro lugar, a língua e as mãos.
II. O professor deverá procurar todos os caminhos de abrir a inteligência e fazê-los percorrer de modo conveniente."
"50. Daqui paia o futuro, portanto:
I. Distribua-se cuidadosamente a totalidade dos estudos em classes, de modo que os primeiros abram e iluminem o caminho aos segundos, e assim sucessivamente.
II. Distribua-se meticulosamente o tempo, de modo que a cada ano, mês, dia e hora seja atribuída a sua tarefa especial.
III. Observe-se estritamente esse horário e essa distribuição das matérias escolares, de modo que nada seja deixado para trás e nada seja invertido na sua ordem."
"Dez fundamentos dessa facilidade.

2. Se observarmos as pegadas da natureza, torna-se-nos evidente que a educação da juventude se processará facilmente, se:
I. Começar cedo, antes da corrupção das inteligências.
II. Se fizer com a devida preparação dos espíritos.
III. Proceder das coisas gerais para as coisas particulares.
IV. E das coisas mais fáceis para as mais difíceis.
V. Se ninguém for demasiado sobrecarregado com trabalhos escolares.
VI. Se em tudo se proceder lentamente.
VII. E se os espíritos não forem constrangidos a fazer nada mais que aquilo que desejam fazer espontaneamente, segundo a idade e por efeito do método.
VIII. Se todas as coisas forem ensinadas, colocando-as imediatamente sob os sentidos.
IX. E fazendo ver a sua utilidade imediata.
X. E se tudo se ensina sempre com um só e o mesmo método."
"38. Daqui para o futuro, portanto:
I. A nada se obrigue a juventude, a não ser àquilo que a idade e a inteligência, não só admitem, mas até desejam.
II. Nada se obrigue a aprender de cor, a não ser aquilo que a inteligência compreendeu perfeitamente. E não se obrigue uma criança a recitar de cor uma lição, sem se ter a certeza de que ela a compreendeu.
III. Nada se mande fazer, a não ser depois de haver mostrado a sua forma e indicado a regra que deve seguir-se para a executar."
"3. Em resumo, devem proporcionar-se ao adolescente, que deseja penetrar a fundo as partes mais intrincadas das ciências, as quatro condições seguintes:
I. Que tenha puros os olhos da inteligência;
II. Que os objetos lhe estejam próximos;
III. Que preste atenção; e então
IV. Que se lhe ofereçam as coisas que estão relacionadas com outras coisas, com o devido método.
Assim, compreenderá tudo, bem e depressa."
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Comênio deve ter chocado muito a sua época. Suas idéias eram revolucionárias e sua visão inovadora. Num mundo teocentrista, focar o aluno como centro do processo educacional sem dúvida foi no mínimo um ato de coragem. E o mais impressionante é que mais de 300 anos depois, muitas de suas idéias ainda nos fazem refletir e agregar críticas e uma nova visão a nossa prática.

Um comentário:

  1. Uma ótima postagem...
    Gostei muito de teu destaque para as partes não válidas da Didática Magna.
    Parabéns!
    Beijos
    Melissa

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