Lendo Marta Kohl de Oliveira, refleti sobre a experiência que tive com alunos adultos. Destacava-se, durante a leitura, sempre a expressão “não crianças”, o que é o extremo oposto da formação de magistério. A nossa formação prepara nossa mente para o lúdico, para a conversa franca, o linguajar simples, a fantasia, o concreto. E isso é ótimo!
Na minha opinião, os alunos de educação de jovens e adultos exigem dedicação e preparo muito maior do educador, uma vez que o mesmo estará atendendo alunos diferentes do padrão de escolarização regular ao qual está habituado e na maioria das vezes para o qual foi preparado.
Assistindo as apresentações dos banners das colegas, sobre o retrato da EJA, percebi que na maioria das escolas observadas, os professores não possuem preparação específica e alguns nem a dedicação mínima. Isso é alarmante, uma vez que trata-se de uma parcela da sociedade frágil, que já passou por um processo de exclusão.
Nas salas de aula da EJA é imprescindível que o aluno seja motivado permanentemente, que seja resgatado da sua condição de inferioridade que é sua realidade há anos, visto que pela sua falta de conhecimento, pré-concebe que não tem condições de efetivar sua inserção social.
Acredito que devido ao fato de esses alunos se sentirem à parte da sociedade, a função principal da EJA seja a reinserção social.
Na opinião de Oliveira (1987, p. 19-29) “ o desenvolvimento das atividades escolares está baseado em símbolos e regras que não são parte do conhecimento de senso comum. Isto é, o modo de se fazer as coisas na escola é específico da própria escola e aprendido em seu interior.
Já passou da hora de repensarmos os modelos e utilizarmos metodologias que valorizem os conhecimentos e experiências do aluno, mostrando-lhe as suas contribuições para a vida em sociedade e resgatando, desta forma a sua auto-estima, bem como fundamentando a auto-confiança, imprescindível para o enfrentamento das dificuldades e expansão dos conhecimentos.
Freire partia da valorização da experiência e do interesse intenso sobre a vida, os desejos, os conhecimentos e as experiências de cada aluno. Freire partia dos pressupostos de que o conhecimento “contido” no aluno deve ser resgatado e reconhecido e de que a troca de experiências e a vivência de fato do conhecimento são as maiores fontes de crescimento.
Imagine você, sentindo-se inferiorizado, cansado de um dia inteiro de trabalho, preocupado com a saúde dos filhos, com a certeza de que estão bem alimentados, com a tristeza de não proporcionar-lhes o que deseja,sentar numa sala de aula onde são tratados assuntos que efetivamente não lhe farão diferença, que lhe roubarão horas de sono ou o pior, que você nem tem de fato idéia do que significam. Você apenas ouve e tenta decorar porque alguém está dizendo que são importantes.
Há coisa de dois meses atrás, participei de uma formatura do Programa EJA Intensivo. Lembro-me de ter me chocado ao ouvir uma professora me informar que um de seus alunos não se faria presente naquela noite, porque havia ficado fazendo hora extra na empresa. Fiquei abismada e revoltadíssima, percebendo como ainda o setor privado não investe e não apóia a qualificação profissional.
Estes jovens ocupam espaços no mercado de trabalho que exigem pouca qualificação; exigem esforço físico, são estressantes, configuram-se como atividades de repetição que acabam levando o esgotamento do corpo e comprometimento da saúde.
Mas a educação está ai para mudar este quadro. E eu acredito fielmente nisso. Mas aí, quem ocupará os cargos profissionais mau remunerados? Ah, claro, o desemprego e o medo da fome fazem o homem submeter-se a tudo. A hipocresia do mercado, alega oportunidade, para garantir a formação mínima necessária para garantir o lucro e a produtividade desejada.